Como ajudar seu filho a lidar com ciúme
Ter ciúmes é um fenômeno bastante comum com crianças. Famílias com duas ou mais crianças vivenciam isso todo dia. A criança mais velha provoca a mais nova, elas discutem e brigam; ou a criancinha empurra o pai para longe quando ele tenta abraçar a mãe… No entanto, poucos pais pensam sobre como na verdade é complexo o mecanismo do ciúme nas crianças, e como isso pode levar a sérias consequências. Este artigo é para mães e pais carinhosos que querem que seus filhos sejam amigos e mantenham um bom relacionamento por toda a vida.
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Conteúdos:
A natureza do ciúme infantil
De onde ele vem?
O que é o ciúme? É um sentimento negativo que se acende na pessoa na falta de carinho ou atenção de alguém importante para ela. As pessoas importantes na vida da criança são seus genitores, especialmente a mãe. Quando a atenção da mãe não é voltada inteiramente para a criança, é fácil que o ciúme apareça. Ele pode ser sentido em relação a outro irmão ou irmã, ao pai, ou até mesmo em relação a um desconhecido.
O ciúme é uma das coisas mais difíceis e desagradáveis para a criança. Junto com o ciúme vem o medo de perder os cuidados de um adulto importante: a criança sofre de ansiedade por não mais se sentir importante ou amada, o que por sua vez gera raiva da pessoa que «roubou» esse amor e atenção.
Dado que crianças sentem uma grande variedade de sentimentos e têm pouca capacidade de controlar seu comportamento, o ciúme infantil tende a ser acompanhado de conflitos e brigas entre crianças.
Psicólogos identificam cinco motivos de ciúmes em crianças:
1. O egocentrismo infantil («Eu sou o centro do universo e tudo gira ao meu redor»)
Considerando a si mesma como o membro mais importante da família e da sociedade, a criança espera que o amor e atenção de todos os presentes seja voltado inteiramente para ela.
2. Como reação a uma injustiça
A criança pode se tornar ciumenta quando os pais passam a dedicar mais tempo a um irmãozinho ou irmãzinha, ou entre um e outro, esquecendo-se das necessidades da criança.
3. Dificuldade de exprimir carinho
O desenvolvimento emocional da criança está em estágio embrionário, de forma que nem sempre é fácil exprimir direito sentimentos relativos aos pais – especialmente se ninguém ensinou a criança a fazer isso. Por isso, a criança usa o ciúme como um método de mostrar o amor que sente.
4. Ansiedade
Uma sensibilidade maior na criança e o sentimento de ansiedade, às vezes por razões insignificantes, são coisas que também contribuem para despertar o ciúme.
5. A sensação de impotência
A criança entende que é impossível existir independentemente do pai e da mãe nesta etapa inicial da vida. Assim, a fim de «proteger» os pais de outras pessoas ao redor, ela usa um mecanismo de defesa – o ciúme.
Se a família estiver criando filhos com uma pequena diferença de idade, o relacionamento entre eles pode passar de amor a ódio. Em um momento as crianças podem estar assistindo TV e se abraçando, mas cinco minutos mais tarde podem começar a brigar.
Em famílias grandes, quando nasce um terceiro filho e depois outros mais, tanto os ciúmes do filho mais novo quanto do mais velho desaparecem gradualmente. As crianças se acostumam a cuidar uma da outra, apoiando-se e protegendo-se mutuamente.
Como entender que a criança está sentindo ciúme?
- Quando o segundo filho vira parte da família, no primogênito começa a se manifestar uma regressão de suas habilidades. De repente, a criança «esquece» todas as habilidades adquiridas: como se vestir, como lavar o rosto, usar o banheiro, etc. Ela começa a pedir ajuda da mãe novamente. Algumas pedem para voltar a usar fraldas ou querem ouvir uma cantiga de ninar antes de dormir.
A questão é simples: a criança entende que ser recém-nascida é muito mais vantajoso, que assim ela recebe carinho e cuidados de todos, que consideram qualquer ação dela adorável e não impõem nenhum dever a ela.
- O sono da criança fica perturbado, ela sofre de perda de apetite e qualquer problema médico já existente é exacerbado. Crianças particularmente sensíveis podem começar a apresentar problemas neurológicos (tiques nervosos, gaguejo ou outras patologias).
Desta forma, o ciúme se manifesta na forma de uma reação psicossomática.
- A criança começa a apresentar hostilidade ou agressão contra um novo membro da família. Se este é um recém-nascido, a situação pode virar realmente perigosa. Os casos em que uma criança mais velha machuca intencionalmente uma mais nova são preocupantemente comuns.
- A criança vira antissocial, deprimida e retraída após o nascimento do irmão. Ela também pode virar malcriada ou travessa, ou começar a fazer chiliques.
Quais são os perigos do ciúme nas crianças?
À primeira vista, pode parecer que as manifestações de ciúme não sejam tão ruins assim. Claro, o filho mais velho é ciumento em relação ao mais novo, o aborrece e pode até mesmo bater nele, mas os pais imaginam que isso passará com o tempo, que os irmãos virarão amigos e começarão a tomar conta um do outro.
Mas nem tudo é tão bom quanto parece. Caros pais, não se esqueçam que o ciúme é uma emoção negativa que deriva da raiva e do medo.
Se a criança não se livra do ciúme durante a infância, esse sentimento continuará a perturbá-la pelo resto da vida, criando um bloqueio emocional e travando a vida familiar da criança. O medo e ansiedade, acumulados, criam um campo fértil para distúrbios mentais.
A criança cujas preocupações não foram atendidas ou resolvidas pode virar um adulto cruel ou cínico, alheio aos sentimentos de compaixão e solidariedade.
O ciúme não só leva a própria criança a sofrer, mas também prejudica o relacionamento dela com seus pais e outros familiares. É comum que irmãos e irmãs continuem abrigando sentimentos de competição e hostilidade um pelo outro mesmo após terem crescido e se tornado independentes.
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Tipos de ciúme
Por causa de um dos pais
O mais frequente é que a criança sofra de ciúme da mãe por causa do pai, embora uma situação oposta também possa ocorrer nos casos onde a filha tem uma conexão emocional próxima com o pai.
A mãe é a principal pessoa para a criança, a parte mais importante do mundo dela. Sempre que a atenção da mãe é voltada para outra pessoa, até mesmo para o pai, a criança sente isso como uma ameaça à própria segurança. A criança emprega seu mecanismo de proteção – o ciúme. Com isso vem a vontade de fazer chilique, de passar todo o tempo com a mãe, de seguir a mãe por toda parte e de só se comportar bem na presença dela.
Por causa de irmãos e irmãs
Nasce um bebê e a família é toda atenção e cuidados com ele. Mamãe e papai atendem a todos os desejos do recém-nascido, os avós estão sempre dando presentes, o bebê sente o amor e carinho. Mas então uma segunda criança vira parte da família. Tudo que antes havia sido dado para o primogênito passa agora para a nova criancinha.
O que o filho mais velho vai estar sentindo nessa altura? Antes de mais nada, medo – medo de perder o amor e atenção dos pais. Em segundo lugar, preocupação em relação a mudanças futuras na vida. Além disso, é claro, vem a sensação de negatividade em relação ao «culpado» por todas essas mudanças – negatividade que pode ser exprimida por atos agressivos, mudanças de humor e chiliques. Se o ciúme passa para uma fase latente, a criança vira excessivamente reservada e deprimida.
Por causa de outros adultos ou crianças
Se os pais se divorciam, mais cedo ou mais tarde novas pessoas entram na vida do pai ou da mãe da criança. A reação natural dela pode ser de negação, rejeitando o novo membro da família. A criança pode já estar sob tensão por causa da separação dos pais, tendo de se acostumar com as novas circunstâncias, e de repente a isso tudo é somado um fator preocupante – um desconhecido tomando o lugar do pai ou da mãe e exigindo amor e respeito quase como uma ordem.
Aqui, a criança pode ter reações bem diversas. Quanto mais velho o seu filho ou filha, mais difícil fica de se acostumar com uma madrasta ou padrasto. Criancinhas muito pequenas ou que ainda não chegaram à pré-adolescência podem ser hostis a princípio, mas se acostumam rapidamente com o novo pai. Já adolescentes costumam ignorar o padrasto ou madrasta e se recusar a obedecê-los, protestando: «Você não é meu pai/minha mãe!»
Se meios-irmãos ou irmãs aparecem na família, a criança ainda precisa estabelecer um relacionamento com eles, o que pode variar de entendimento mútuo a ódio e rivalidade aberta.
A criança também pode ter ciúme por causa de colegas ou filhos de vizinhos que sejam extremamente «bem-sucedidos» e que os pais usem constantemente como exemplo.
Lidando com o ciúme
A reação correta para os pais
Ao ver que a criança está virando ciumenta, é importante que os pais aprendam a reagir corretamente à situação.
Se você nota que a criança está com ciúme de você, a mãe, por causa do pai, de um irmão ou de outra pessoa qualquer, não negligencie isso e não espere que o problema desapareça sozinho. O ciúme é um sinal da criança implorando por ajuda, carinho e atenção.
Converse com o seu filho e explique que você entende o que ele está sentindo e que você não ficará brava com ele por causa desses sentimentos. Diga à criança que você a ama muito, que tem orgulho dela e que você quer que todos na família vivam juntos e sejam amigos um do outro.
Acompanhe com atenção o bem-estar da criança: como já mencionamos, o ciúme pode passar a um estágio latente.
Como podemos impedir o ciúme?
Não se esqueça da regra mais importante: é melhor impedir o ciúme antes que ele apareça do que, mais tarde, ter de lidar com as consequências dele.
Preparando a criança para o nascimento de um irmãozinho ou irmãzinha
- Assim que a criança note a mudança na aparência da mãe, informe que, no futuro próximo, um bebê se tornará parte da família.
- Conte para o seu filho como é maravilhoso ter um irmão ou irmã, como o bebê será um ótimo amigo para ele como será divertido brincar e passar tempo com o bebê.
- Dê à criança a oportunidade de começar a se comunicar com seu irmãozinho mesmo enquanto este ainda está no ventre: a criança pode conversar com seu futuro irmãozinho, contar histórias a ele e senti-lo através da barriga da mãe.
- Imagine com seu filho como será o bebê ao nascer: a cor dos olhos e do cabelo, do que o bebê gostará e do que não gostará.
- Escolha juntamente com o primogênito os brinquedos, o berço, o carrinho e outros acessórios para o neném. Peça sempre a opinião do filho mais velho.
- Prepare a criança para a mudança que vai acontecer na vida dela: «Vamos colocar o berço aqui e você vai começar a ter o seu próprio quarto. Veja só como você já está crescida!» Ou: «Agora você está brincando sozinho no escorregador, mas logo vamos fazer isso com seu irmão mais novo. Você vai estar com ele quase o tempo todo quando brincar e caminhar. Imagine como vocês vão ser bons amigos!»
- Explique que, no começo, o irmãozinho vai ser muito pequeno e não vai nem andar nem falar; diga ao filho que ele terá de esperar até que o irmão cresça um pouco. Nesse tempo, será preciso cuidar e tomar conta do bebê.
- Após dar à luz um segundo filho, não transforme o primogênito em babá. A criança mais velha também tem direito a sua infância.
- Explique para a criança como lidar com o bebê (não fazer barulho quando ele estiver dormindo, pegá-lo nos braços com cuidado, etc.).
- Deixe que a criança ofereça ajuda – ajuda para encontrar a chupeta que caiu no chão, para trazer a mamadeira, para balançar o berço. Se a criança quiser segurar o bebê, não recuse de jeito nenhum. Se você tiver medo que ela possa derrubar o bebê, sente-se junto deles e cuide para que tudo fique bem.
- Não deixe a criança mais velha sozinha com o bebê! É uma questão de segurança. Mesmo se parece que a mais velha ama o bebê, toma conta dele e não exibe nenhum indício de agressão, não dá para imaginar como a criança pode ser inventiva. Talvez, enquanto você está lavando os pratos, a sua filha mais velha queira dar uma bala ou uma laranja para o bebê, ou fazê-lo andar de bicicleta, ou pintar suas unhas com marcadores…
- Enfatize frequentemente a proximidade emocional de crianças através de histórias de como o filho mais velho virou o melhor do mundo, ensinando o mais novo a andar de bicicleta, patinar ou jogar futebol. Faça com que o seu filho sinta que é uma pessoa importante na vida do recém-nascido.
- Não passe o filho mais velho para os cuidados de uma avó ou tia enquanto você toma conta do recém-nascido, senão o primogênito pode se sentir inútil e isolado da família, pensando que os pais querem se livrar dele.
Se um novo adulto vira parte da família
- É aconselhável apresentar a criança a seu padrasto ou sua madrasta antes de vocês começarem a viver juntos. A nova pessoa deve entrar na vida da criança gradualmente, ganhando sua confiança. É preciso tempo para que venham a se conhecer.
- Explique para o seu filho porque outra pessoa virou parte da família. Conte que essa pessoa vai amar e tomar conta tanto dele quanto de você.
- Organize passeios – por exemplo, para um parquinho de diversões – juntamente com o seu novo parceiro. Mas não seja obcecado: se a criança só quiser ir com a mãe, permita que isso aconteça.
- O ideal é que o padrasto ou madrasta adote o estilo de vida da sua família a fim de estimular um relacionamento amigável.
- Discuta de antemão como a criança se comunicará com o pai ou mãe divorciado. Marque horários para que a criança possa se encontrar com seu pai ou mãe.
- Muitos pais/mães divorciados começam a pôr a criança contra o novo parceiro do outro. Isto não pode acontecer em caso algum! A criança já vai estar sofrendo de muita tensão por causa da separação dos pais. Se o conflito entre os pais for agravado através dos sentimentos da criança, isso pode levar a sérias consequências para o bem-estar mental dela.
Dicas de um psicólogo
- Se houver várias crianças na sua família, dê sempre um tempo para cada uma onde ela poderá estar sozinha com a mãe e receber atenção e carinho dela. Por exemplo, quando o pai vai andar um pouco com o bebê, a mãe pode brincar de boneca ou desenhar com a filha mais velha.
- Não dê brinquedos ou objetos da criança mais velha para a mais nova sem permissão, mesmo se a criança tiver perdido o interesse neles.
- Não compare os seus filhos – seja feliz com o sucesso de todos!
- Divida o amor e carinho igualmente entre cada filho. Todos precisam da afeição dos pais, tanto recém-nascidos, criancinhas ou adolescentes.
- Quando as crianças brigarem, não fique do lado da mais nova só porque ela é menor. Se você castigar as crianças pela briga, castigue de forma igual.
- Caso surja qualquer tipo de agressão (tapas, empurrões, insultos), ponha fim à situação sem delongas. Explique que todos são parte da mesma família, o que significa que eles serão sempre amigos e que seus pais os amam igualmente.
- Passe mais tempo com a família toda: caminhem, viajem e brinquem juntos. Com isso, você não só fortalece o relacionamento com seus filhos, mas também aproxima os irmãos um do outro e os torna mais receptivos.
O ciúme é um fenômeno perfeitamente natural na criança. Na opinião do psiquiatra e psicanalista infantil Donald Woods Winnicott, «O ciúme existe porque a criança ama. Só pode não haver ciúme se ela não for capaz de amar». O importante para os pais aqui é se lembrar de que é muito difícil de evitar o ciúme, mas que é inteiramente possível minimizar as manifestações dele e que para todos os pais é possível dar a oportunidade da criança sentir que ela é importante e querida por eles.
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